

Os desdobramentos da Lava-jato geram inúmeras teses e pontos de vistas a respeito das ações realizadas na operação e as consequências que ela vem causando na sociedade. O modo de operação, as condutas tanto dos acusados e investigados tanto quanto da polícia e da justiça, geralmente geram inúmeros comentários e insinuações em várias esferas da coletividade interativa.
Mídia tradicional, meios alternativos e internet hoje em dia são canais de comunicação e surgimento de inúmeras teorias e discursos a respeito do que ocorre dentro da ação que hoje é considerada a mais retumbante na história política e criminal do país. Nos debates temos considerações de lados diversos e nas mais diversas nuances do embate.
Mas quero me apegar a algumas afirmações a respeito do justo e do legal. Muitos engajados, partidários ou não, estão dissertando sobre os aspectos legalistas a que estão sendo submetidos os investigados na operação. A questão levantada, por exemplo, em relação ao que faz o juiz Moro, sobre o método dele questionar particularmente os acusados mostra para alguns que se trata de afronta ao direito democrático uma vez que “ao juiz cabe julgar” e não tomar parte da acusação. À esta, para os que defendem a ideia de que há um complô contra os investigados, o Ministério Público é quem deveria ser a parte interrogadora e não o julgador.
Em contrapartida, os que defendem este avanço da operação e a rapidez nas conduções dos processos e das operações que a justiça e a polícia federal vem fazendo ao longo de toda Lava-jato, alega que mesmo não respeitando algumas liturgias jurídicas a equipe está sim fazendo justiça. Eis aí que mora o impulsionador das discussões. Há os que alegam que os “atropelos” aos ritos estão tornando a operação e os julgamentos em peças sem crédito jurídico algum, deslegitimando inclusive os resultados.
Por outro lado temos os que alegam que, mesmo ando por cima de certas práticas comum em nossa morosa área judiciária, o que está se fazendo nada mais é do que a essência dessa área, a justiça. Como não sou jurista e não tenho amplos conhecimentos para opinar tecnicamente nesse assunto, minha tese política é a de que há uma polarização inútil no país.
Afirmo isso porque a divisão da população serve somente para que o verdadeiro salvador da pátria, o capital social elevado, com a participação e o conhecimento, através do fortalecimento de instituições, da democracia e da educação coletiva, é o único prejudicado com isso. Precisamos entender que jamais um povo desunido conseguiu melhorar sua condição social.
É a partir da conscientização das pessoas de que a lei e a justiça precisam ser discutidas sim, mas, acima de tudo, precisam trazer resultados práticos para a moralidade da sociedade, que a política partidária será deixada de lado para se fazer uma política social. As pessoas querem o mundo real e não mais o teórico, a vida acontece de verdade e não em linhas acadêmicas de discussão.
Mas, entre a justiça e a lei, para voltarmos ao centro do texto, lembro que na história da humanidade tivemos sociedades que mataram, estupraram, escravizaram e cometeram outras atrocidades dentro da legalidade. Por isso, mesmo que fora dos padrões, ainda prefiro o justo.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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