

Cartazes indicam preços sugeridos e orientam os clientes para que depositem, em um tarro de leite, o que consideram justo por aquilo que estão comprando (Foto: Divulgação)
Quem a pelo km 331 às margens da BR-386, na altura da localidade de Linha Perau, em Marques de Souza, se depara com um “mercado” no mínimo diferente. No local, espalhados sobre caixotes e estrados, estão dispostos produtos diversos, como banana, abacate, bergamota, carambola, nozes, chuchu, aipim e couve-folha, entre outros. Cartazes indicam preços sugeridos e orientam os clientes para que depositem, em um tarro de leite, o que consideram justo por aquilo que estão comprando. É dessa forma simples, confiando na honestidade das pessoas, que funciona o sistema de self service do Sítio do Lili.
Lili, que na verdade responde pelo nome de Elson Henrique Griesang, explica que a ideia para a implantação do sistema partiu de um comentário em tom de brincadeira feito pelo extensionista da Emater/RS-Ascar de Marques de Souza, Diovane Cardoso. Lili estava preocupado em relação à existência de demanda para a comercialização dos morangos em bancada que serão plantados nas próximas semanas na propriedade – a estufa já está construída há mais de um mês. “Qualquer coisa tu coloca uma banquinha na beira da BR e com certeza tu vai vender”, teria comentado Cardoso. A observação ficou na cabeça do produtor.
O próximo o foi pesquisar na internet a respeito da existência desse tipo de sistema em que as pessoas se utilizam do autoatendimento. “Percebi, por vídeos no Youtube, que o modelo é bastante comum em alguns países da Europa e resolvi colocar em prática aqui também”, explica. Foi dessa forma, meio que “sem querer”, que o Sítio do Lili inaugurou a sua banca há cerca de três meses. “Fui chamado de louco no começo”, gargalha, explicando que tudo o que comercializa na tenda improvisada junto a BR é excedente daquilo que a família consome. “E não utilizamos agrotóxicos”, orgulha-se.
Nesse sentido, Lili já avalia a iniciativa como positiva. “Muitas das frutas e hortaliças que estão ali apodreceriam e teriam como destino o lixo”, ressalta. “Assim, além de oferecer produtos de qualidade, ainda consigo algum valor por eles”, completa. O agricultor garante já ter havido meses em que a comercialização lhe rendeu cerca de R$ 2 mil. Sobre a integridade do público consumidor, o empreendedor diz não ter havido nenhum percalço, com as pessoas depositando efetivamente aquilo que consideram justo. “Até já percebi que há clientes que pagam em outro dia se não têm dinheiro na hora”, analisa.
Lili, que já trabalhou de segurança em um banco, garçom, vendedor (inclusive de livros), jornaleiro e até de secretário da Saúde se diz estabelecido no campo, onde mora com os pais, a esposa e dois filhos. “Aqui, trabalho no que gosto, tenho qualidade de vida, saúde e estou próximo da minha família”, avalia. Não por acaso, com o apoio da Emater/RS-Ascar, implantará não apenas a estufa com 2.500 pés de morangos, mas também uma horta com uma maior variedade de hortaliças, temperos e chás. “Minha ideia é transformar a minha propriedade em um colhe e pague”, relata. “E a banca?”, pergunto eu. “Continuará lá, claro”, sorri.
Texto: Emater/RS-Ascar – Regional de Lajeado